11.11.07



«Control» Anton Corbijn 2007 (filme)

Entrando pela primeira vez no universo da ficção de longa duração, Anton Corbijn não pôde deixar de fazer um filme de um fotógrafo - parece que ele não gosta nada que digam isso... Mas ainda bem. E, na realidade, fez muito mais do que isso. É notoriamente um filme de um esteta, alguém que dotou a história da música popular com as suas melhores fotos, um realizador de inúmeros videos e concertos ao vivo que sempre primou pela excelência e coerência estética do seu trabalho. Nessa linha, a preto e branco, «Control» goza ainda da empatia que Corbijn tem com o tema em questão - confessou, na apresentação do filme, que foi a música dos Joy Division que o fez partir da Holanda para Londres, de máquina na mochila, à descoberta de algo que o deslumbrava...


Se no território das cenas de actuações ao vivo e na ilustração musical das imagens se percebe que é onde Corbijn está naturalmente mais à vontade, criando momentos de grande energia mas também de rara beleza, é na dramaturgia que surpreende, iniciando aqui um percurso promissor na direcção cinematográfica. E serão raríssimos os casos em que o filme é superior ao livro, embora Corbijn também faça questão de dizer que é apenas «baseado» no livro de Deborah Curtis. De uma enorme sensibilidade e poesia, afasta-se do realismo crú do livro e torna-se cinema. Não deixa, no entanto, de criar alguns nós no estômago a quem o visiona, e os últimos 15 minutos serão mesmo esmagadores para quem sempre se fascinou com o «mito» Ian Curtis. Porque Ian aqui é um poeta descalço, a sangrar devido à pressão a que diversas situações na sua vida amorosa e profissional o sujeitam. Ian é o anjo branco e negro mas também o pai e o marido que falha, o angry young man que não vai conseguir enfrentar o futuro que era brilhante. Um ser humano que, desadaptado, não consegue chegar ao fim do dia para poder dormir descansado. E que por isso, num momento de claravidência, se pendura para saltar na luz.****



- Para acabar, fica aqui transcrito o poema que poeta punk John Cooper Clarke - que faz de si mesmo com mais 30 anos em cima! - interpreta no filme (para ler depressa de um só fôlego):




the fucking cops are fucking keen to fucking keep it fucking clean the fucking chief's a fucking swine who fucking draws a fucking line at fucking fun and fucking games the fucking kids he fucking blames are nowehere to be fucking found anywhere in chicken town the fucking scene is fucking sad the fucking news is fucking bad the fucking weed is fucking turf the fucking speed is fucking surf the fucking folks are fucking daft don't make me fucking laugh it fucking hurts to look around everywhere in chicken town the fucking train is fucking late you fucking wait you fucking wait you're fucking lost and fucking found stuck in fucking chicken town the fucking view is fucking vile for fucking miles and fucking miles the fucking babies fucking cry the fucking flowers fucking die the fucking food is fucking muck the fucking drains are fucking fucked the colour scheme is fucking brown everywhere in chicken town the fucking pubs are fucking dull the fucking clubs are fucking full of fucking girls and fucking guys with fucking murder in their eyes a fucking bloke is fucking stabbed waiting for a fucking cab you fucking stay at fucking home the fucking neighbors fucking moan keep the fucking racket down this is fucking chicken town the fucking train is fucking late you fucking wait you fucking wait you're fucking lost and fucking found stuck in fucking chicken town the fucking pies are fucking old the fucking chips are fucking cold the fucking beer is fucking flat the fucking flats have fucking rats the fucking clocks are fucking wrong the fucking days are fucking long it fucking gets you fucking down evidently chicken town.

2 comentários:

fabricia valente disse...

«Control» Anton Corbijn 2007 foi uma óptima surpresa! Tal como ele anunciou, é muito mais que um filme sobre música. É todo um conflito entre a vida artística e a vida pessoal. Entre as fabulosas pisadas de Ian Curtis nos Joy Divison e o seu mundo interior existiu toda uma linha de zig-zags cinzentos. Ver isto tem tanto de bom como de doloroso. Este fotografo soube muito bem retratar a sua luz artistica e o negro da sua vida pessoal ( o actor que faz de Ian tb) e faz todo o sentido que esta longa metragem seja apresentada a preto e branco. E mesmo Corbjin não tendo gostado muito desta minha opinião, repito que cada fram é uma fantástica fotografia, de planos e luzes estudados à exaustão e, perante isto, para quem gosta de olhar para uma tela e ver muito mais que o enredo, desejo que muitos fotógrafos se aventurem no cinema. Se a isso associarem paixão por musica, junção perfeita.

Joanneb disse...

Hoje, ao folhear um livro de poesia de um amigo, deparei-me com este poema:

Ian Curtis

alguém cresce iludido de sonhos
assustado com o barulho e a luz
que nele se focam sempre que solta
um grito de dor

o desespero um último sopro
de vida no cimo da corda murmura
love will tear us apart

Rui Alberto, Parabola Abyssus