27.5.08












«O Ente Querido» Evelyn Waugh 1948 (livro)

Publicado pela colecção «Raposa Matreira», da Cotovia, «O Ente Querido» é uma pérola da Literatura, tão pós-pós-moderna face ao pântano das letras que invadiu o mercado nos últimos anos, que nos parece the next big thing! Waugh, conhecidérrimo por «Brideshead Revisited» ou «A Handful of Dust», oferece-nos neste livrinho (apenas porque pequeno) toda a riqueza da sua ironia europeia face ao Novo Mundo no pós -guerra. Delicioso ao falar sobre cadáveres, quer humanos quer de animais, belíssimas descrições de cemitérios chiques West Coast, um mundo dentro de uma Indústria em crescimento - o cinema - onde pontificavam como guionistas de excelência alguns Sirs do Velho Mundo, a caírem em desgraça face à quebra de qualidade da 7ª arte, dobrada ao materialismo em ascensão. Para ler com chá, scones, gin tónico ou mesmo um gracioso cálice de Porto. *****

11.5.08














«Home Before Dark» Neil Diamond 2008 (Cd)

Monumental! Se a tentativa de agregar Rick Rubin a Neil Diamond, bem ao jeito dos últimos discos de redenção de Johhny Cash, tinha ficado a meio caminho em «12 Songs», em «Home Before Dark» a voz de Diamond volta a brilhar por entre constelações, épica mas madura e resignada. É, sim, mais um disco de redenção, mais um belo disco de redenção, no drums, just redemption. Ao lado de Natalie Maines, das Dixie Chicks, em «Another Day (That Time Forgot)», em «One More Bite of the Apple», nos cruciais «If I Don't See You Again» e «Pretty Amazing Grace», e, na realidade, em todas as faixas do disco, Diamond voa ao entardecer por cima das nossas cabeças. Estranha gaivota com alma. *****














«Demo» The Guys from the Caravan 2007 (mp3)

E.P. de estréia, embora denominado demo, de um interessante novo duo da música portuguesa. Embora já com temas novos no seu MySpace, e a preparar um álbum, os temas desta demo apontam na tradição da escrita de canções para um certo ambiente, o que por vezes tanta falta por cá faz, ao se ligar mais a perícias técnicas e truques estéticos desgarrados. Os The Guys from the Caravan criam o seu próprio filme, distribuindo os papéis segundo um guião bem vivido. Lê aqui o brilhante texto de Hugo Torres para o E.P.. A seguir, com muito interesse. ****

9.5.08









«I'm Not There»
Todd Haynes 2007 (filme)

Recente objecto de controvérsia entre apreciação por fãs e não fãs (quer de Haynes, quer de Dylan), «I'm Not There» é não só a melhor obra de Haynes atá à data - superando em muito «Velvet Goldmine» - como um dos melhores debruçares de sempre sobre a carreira de alguém. A Dylan o que é de Dylan, e as fábulas escritas por Haynes sobre a vida e escrita de Dylan são parábolas riquíssimas sobre aquilo com que muitos de nós «lutam» no seu dia-a-dia. Quem conhecer os espaços da carreira e vida de Dylan vai apreciar cada momento, quem não conhecer recebe um óptimo convite ilustrado para a descoberta. Nesta ficção-documental de original recorte na história do cinema, construída sobre flashbacks de flashbacks, há sempre um fio condutor recheado de elementos que nos prendem a atenção, em puro deleite cinematográfico. Excelente a cenografia, a fotografia, o guarda-roupa, os actores - Cate Blanchet é magnífica na sua metamorfose, Charlotte Gainsbourg é absorvente na sua intensidade, Heath Ledger é... grande! Para quem gosta de pensar, antes, durante e depois do filme. A ver e rever em momentos de necessidade de poesia audiovisualirico-existencial.*****





















«Amazing Journey: The Story of The Who»
Paul Crowder/Murray Lerner 2007 (DVD)

Documentário dividido em 6 lados de vinil mais um DVD extra - e que extras, entre outros a primeira actuação filmada do grupo no Railway Hotel, para um documentário Mod, bem guardada até agora nos cofres de Roger Daltrey! - «Amazing Journey» é na verdade a mais honesta viagem que um grupo pode fazer à sua longa existência, minada por breves separações e mortes inusitadas. A simplicidade e verdade que Daltrey e Townshend põem nas suas intervenções, tão raras neste mundo pop, dão os tópicos necessários para a compreensão daquilo que muitas vezes interpretamos e não atingimos. Não há aqui a agilidade irónica de Bono nem a insuficiência de Madonna, ou mesmo a eterna displiscência dos glimmer twins. Há aqui verdade, amor e raiva. Quatro solistas (como Noel Gallagher os descreve) que foram provavelmente a maior banda de rock de todos os tempos, e que ainda mexem, dois em espírito! Imprescindível porque comove, entusiasma, e acende a chama que nos presenteia. We are The Who!*****